top of page

Foto: Rodrigo Kees

DURA LEX SED LEX NO CABELO SÓ GUMEX

Com o devido respeito e permissão da censura (Sinopse)

 

A América Latina está (ou melhor, sempre esteve) em pé de guerra. Maria (isso mesmo, a santa!), vem a mando “do lá de cima”, atendendo aos pedidos suplicantes da população, para entender os dilemas, se colocar na pele de brasileiros e brasileiras, e solucionar os nossos problemas: o desemprego, a corrupção institucionalizada na polícia, os problemas relativos a falta de infra estrutura urbana, o achatamento de salários e a elevação de preços, a iminência da guerrilha e a inépcia do exercito, a demagogia e o oportunismo na política e a atuação alienante dos meios de comunicação em massa. Por meio do Teatro de Revista, Maria, a primeira vedete desta companhia, vai sendo engolida e cooptada pelo “sistema” (esse que nem o todo poderoso “dá conta”). O Núcleo Arranca vem pensar, divertir, contar e cantar o golpe (ou golpes), a liberdade (ou falta de), a cordialidade e a falta de vergonha na cara. Oba!

 

O Prazer da Leviandade

                                                                                                              Oduvaldo Vianna Filho

(...) Jogador de futebol, Presidente da República, trânsito, JK, inflação, velhinho na porta da Colombo, general: nada, absolutamente nada escapa à carga crítica da revista.

O segredo da comunicação da revista é que atores e público aceitam uma regra do jogo: falar dos acontecimentos e não do encadeamento deles. Sabem que uma aproximação tão junta à realidade só permite apreender aspectos isolados; estão conscientes de que a coisa mostrada não é bem assim, mas é assim para uso cotidiano. É o abastecimento espiritual do dia a dia. O feijão com arroz. Público e atores sabem-se levianos e tem imenso prazer nessa cumplicidade. A superficialidade da critica é intimamente compensada pela sua rapidez. “Essa gente não deixa escapar nada”, é o lema da revista que representa a consciência social no seu policiamento diário.

Claro está que – fiel espelho do senso comum – a revista vai das posições mais progressistas e agudas às mais conservadoras e moralóides.

(...) “DURA LEX SED LEX NO CABELO SÓ GUMEX” pretende revitalizar esta tradição do nosso teatro.

(...) Mas, agora, por que escrever uma revista? Quando os acontecimentos já foram examinados e a perplexidade está justamente na interpretação do encadeamento deles, no porque as coisas acontecem assim, na desesperada procura de quais são os comportamentos, os valores e condicionamentos que possuímos que não permitem uma realização mais plena de nossas vidas.

Confesso que não é fácil responder. Realmente, talvez, não seja a hora de escrever uma revista. DURA LEX talvez tenha chegado tarde.

(...) Não consigo imaginar nada que não possa ser urgente, aflitamente atuante, imediato, na boca do cofre.

Ao mesmo tempo, tenho consciência de que esta sofreguidão, se acompanha o dia a dia, não acompanha a evolução humana neste país; evolução que se dá menos rapidamente, tem estruturas mais fundas, aspectos mais complexos.

Tenho de passar de panfleteiro a artista. É uma dura escalada que só agora começa a me preocupar seriamente, tão absorvido estive com a indispensável agitação. Há que juntar os dois – a linguagem, os fatos do imediato, do instantâneo com a apreensão do mais profundo, do mais rico e denso.

DURA LEX se mantém somente na primeira linha. Não só porque eu goste e sinta imenso prazer escrevendo assim urgente; não só porque é minha experiência de comunicação de mais de oito anos; também porque, para escrever em maior profundidade, não basta a vontade.

(...)

*Trechos do texto de Vianinha publicado no programa da primeira montagem da peça, pelo Teatro do Autor Brasileiro (TAB), dirigida pelo Gianni Ratto.,

 

A lei é dura, mas é a lei

 

                                                                                                              Eduardo Cesar

Não é simples entender o motivo da escolha em montar “Dura Lex Sed Lex No Cabelo Só Gumex”, do Vianinha, visto que a peça não é uma das preferidas da crítica (que nunca legitimou sua obra cômica) e propõe uma análise específica da conjuntura política e social do período em que fora escrita, 1967, sob a ditadura civil-militar. Talvez não tivéssemos apenas um motivo, mas alguns: a vontade de “encarar”, um texto teatral (já que até então o Núcleo Arranca só estreou espetáculos com dramaturgias próprias) de um dramaturgo(a) brasileiro(a), a vontade de estudar a linguagem do Teatro de Revista, a vontade de buscar uma relação mais próxima com nosso público, a vontade de permanecer “na boca do cofre”, urgente, pulsante, e, por último, a vontade de continuar a pesquisar a sociabilidade e as identidades brasileiras, vontade que permeia todos os nossos processos de criação e que dialoga diretamente com a obra do autor.

É fato que já namorávamos esse texto mesmo antes de termos vontade de montá-lo, ele fora material de estudo para nossos processos criativos desde “Fulanogonia”(2011). E apenas agora, em 2017, o projeto de “encarar” o texto foi concretizado. E podemos afirmar que esse fora o momento certo para que a montagem se efetivasse porque 2017 é o ano em que o texto comemora 50 anos e o Núcleo Arranca10 anos de existência.

Obviamente que encontramos relações (muito próximas e/ou mais distantes) entre as circunstâncias que a peça propõe e a contemporaneidade, especialmente quando analisamos a conjuntura política e social de nosso país e o desmonte à cultura. Se essas relações não existissem a montagem não faria nenhum sentido. Infelizmente vivemos, ainda, alguns dos dilemas que Vianinha aponta em seu texto. Porém encontramos algumas adversidades principalmente no que diz respeito às informações “datadas” da peça. Foi necessária uma atualização dessas informações para os nossos dias, com base no argumento do “Teatro de Revista”, que propõe um panorama (superficial, muitas vezes) dos últimos acontecimentos da sociedade.

Resgatar o Teatro de Revista não fora tarefa fácil nem para o Vianinha, e, muito menos, para o Núcleo Arranca, separados que estamos, aproximadamente, 70 anos da decadência dos espetáculos da Praça Tiradentes (RJ).

É claro que propomos uma roupagem diferente para o nosso Teatro de Revista, e o próprio Vianinha em seu texto, quando escolhe um Teatro de Revista de Enredo (escreve um fio condutor para a dramaturgia da peça) que se propõe politizado e de comunicação fácil, em detrimento daquele, já em decadência, Teatro Rebolado, das vedetes, que excluem gradativamente qualquer camada de criticidade que ele poderia ter. A “morte” da Revista está associada à fundação e crescimento da televisão brasileira, logo, não faz sentido fazer no teatro um programa de auditório.

Estamos circunscritos em outro momento histórico e em outro espaço. Diferentemente da primeira montagem, dirigida por Gianni Ratto, nosso público não é aquela Classe Média do Teatro Mesbla (RJ). Estamos numa periferia da cidade de Guarulhos, no Jardim Tranquilidade, e fazer essa peça nesse espaço/contexto propõe outras relações com o espetáculo. Mas, ainda assim, resgatamos e/ou fizemos uma releitura dos elementos que o Teatro de Revista utilizava. Podemos arriscar em dizer que estamos fazendo um Teatro de Redes Sociais, visto que essas possuem hoje a função de informação e criticidade (por vezes, também, superficial) que a revista brasileira possuía nos anos 40/50.

Estamos propondo uma reestruturação da revista e um desmonte do palco italiano: adotamos a arena como espaço de potencial comunicação e aproximação com o público e os atores e atrizes se revezam na personagem Maria (personagem coringa), protagonista da peça, e realizam muitas personagens (na montagem do Teatro do Autor Brasileiro 13 atores e atrizes faziam a peça, no nosso caso 7). Essas escolhas não são nem um pouco novas, visto que o Teatro de Arena (um dos grupos em que Vianinha trabalhou) já as realizava com excelência, porém quando se fala em Revista não são escolhas, aparentemente, condizentes com a linguagem. Adotamos, também, diversos elementos que conversam com a cultura popular, como a música, a cenografia e figurinos, e a ação dos atores e atrizes em cena, que tem como base a comicidade.

 Obviamente é tarefa difícil lidar com a superficialidade proposta pela Revista. Por se tratar de um espetáculo com quadros ligeiros fica difícil aprofundar qualquer informação ou criticidade apresentada. Poderíamos sim ter escolhido não fazer uma Revista, e pensar as circunstâncias propostas por Vianinha de outra maneira, mas acreditamos que não faria muito sentido, visto que a peça é construída à partir do Teatro de  Revista. Escolhemos trabalhar com essa linguagem, inclusive com a superficialidade que ela propõe.

 

Na boca do cofre

 

                                                                                                              Angela Consiglio

Oduvaldo Vianna Filho, o nosso Vianinha! Homem de teatro. Artista.
Mas não qualquer teatro. Mas não qualquer artista. Um artista que tinha como pressuposto a militância política, um teatro com vistas à transformação social.
Em sua vida, militância e atividade artística sempre caminharam juntas. Em alguns momentos de maneira mais aguda que em outros, é verdade, mas sem nunca abandonar essa ligação, que aliás, foi o que o trouxe ao encontro do teatro.
Por acreditar que a situação política do Brasil esteve sempre “na boca do cofre”, urgente por transformações, Vianinha traçou diversos caminhos. Iniciou sua carreira no Teatro Paulista do Estudante (TPE), ligado ao partido comunista, que mais tarde se fundiu ao Teatro de Arena, fundou o Centro Popular de Cultura CPC, onde fazia teatro de agitação e propaganda, trabalhou com cinema, TV e sobretudo militou pela consolidação de uma dramaturgia brasileira.

Vianinha foi um homem de ação. Ator, dramaturgo, diretor, roteirista e militante de seu tempo!

Ficha Técnica

Dramaturgia: Oduvaldo Vianna Filho

Co-Dramaturgia: Paulo Pontes e Armando Costa

Direção: Eduardo Cesar

Elenco: 2017 - Angela Consiglio, Edson Raphael, Gilberto Costa, João Marcos Bargas, Leandro Pacheco, Renato Mendes e Tainá Francis; 2018 - Edson Raphael, Felipe Giraldeli, Gabriela Saiani, João Marcos Bargas, Laís Loesch, Leandro Pacheco e Tainá Francis; 2019 - Edson Raphael,  João Marcos Bargas, Laís Loesch, Leandro Pacheco, Mayara Alves, Rita Ivanoff e Tainá Francis

Voz-Off: Eduardo Fonseca

Direção Musical, Composição, Execução ao vivo, Arte Gráfica e Operação de Som: Leandro Pacheco

Preparação e Direção da voz (2017): Natália Nery

Direção de Arte: Eduardo Cesar e Núcleo Arranca

Cenografia: Núcleo Arranca

Figurino: Laís Loesch e Núcleo Arranca 

Adereço: João Marcos Bargas e Núcleo Arranca

Operação de luz, som e slide: 2017 - Jaime Hollanda e Eduardo Cesar; 2018 - Natalia Dezoti e Eduardo Cesar; 2019 - Erickson Felizardo, André Di Giacomo e Eduardo Cesar

Cabelo e Maquiagem: João Marcos Bargas

Assessoria de Imprensa: Edson Raphael

Orientação do Núcleo de Investigação Cênica (2017): Renato Mendes e Tainá Francis

Produção Executiva (2017): Jaime Hollanda

FOTOS

Rodrigo Kees - 2017
Rodrigo Kees - 2017
Rodrigo Kees - 2017
Rodrigo Kees - 2017
Rodrigo Kees - 2017
Rodrigo Kees - 2017
Rodrigo Kees - 2017
Rodrigo Kees - 2017
Rodrigo Kees - 2017
Rodrigo Kees - 2018
Rodrigo Kees - 2018
Rodrigo Kees - 2018
Rodrigo Kees - 2018
Rodrigo Kees - 2018
Rodrigo Kess - 2018

Fotos: Rodrigo Kees

TEASER - 2019

MAKING OFF - 2018

Por Rodrigo Kees

TEASER - 2017

SÍTIO CULTURAL ALSÁCIA - 2017

Apresentações do espetáculo nos dias 19 e 20 de agosto de 2017. Vídeo produzido pelo "Torneado em Rede", do Pequeno Teatro de Torneado.

©2021 por Núcleo Arranca

bottom of page